domingo, 22 de maio de 2011

Papel, caneta e um Bom Dia.

O esfregão se movia para lá e para cá; para lá e para cá. Aquele cheiro de desinfetante que ele já conhecia tão bem invadia suas narinas. Ele odiava aquele cheiro que ordinariamente o separava de seus sonhos.
Machado de Assis, Guimarães Rosa, Fernando Sabino; todos estampados na vitrine impecavelmente limpa.
Danilo sempre fora muito perfeccionista. No colégio principalmente, assim como no seu oficio; desde os tempos de moleque se encantava com as entrelinhas de qualquer livro; da mesma forma que os que liam seus rabiscos.
Era frustrante ver seus sonhos afundados em um balde de detergente. Afundados que nem o dinheiro que sua falecida mãe lhe deixou; aos 16 anos, Danilo não era mais estudante, ao invés de um lápis, agora segurava um esfregão.
- Homem não chora. - dizia seu pai repetidamente quando a fome apertava.
Infelizmente, essa fora uma das poucas lições que não desmistificou.
Limpava o chão com suas lágrimas, mas ninguém notava. Afinal, ninguém notava nada que ele fazia; Ninguém o notava.
Após o trabalho, cabisbaixo como em todos os dias, vagava pelas calçadas em direção ao ponto de Ônibus. Como um filho à procura de sua mãe, um pedaço de papel encardido se agarrou à sua perna; porventura do destino ou por simples coincidência, ele não sabia. Mas no papel estava escrito "Procura-se escritor amador".
Ao amanhecer do dia seguinte, não compareceu à seu fardo, e não pretendia comparecer mais.
Como se tivesse 16 anos novamente, saltitava a caminho da realização de seus sonhos; ao entrar no escritório, não era mais um esfregão. Agora, era um papel, uma caneta e um "bom dia".
- Bom dia. - disse a secretária com um sorriso no rosto.

Escrito por: Alanna Chemas e Ana Luiza Saback.

1 comentários:

Ceres disse...

Caramba! Você tá escrevendo bem melhor! Pelo menos ao meu gosto...
Aparece, nem que seja pra dizer que eu sou um canalha em ainda passar por aqui, que, juro, serei bem mais gentil (: